A biografia não autorizada de Ruy Castro

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Ruy Castro não quer ser uma “Estrela Solitária”. Não se imagina na pele de um “Anjo Pornográfico”, muito menos tem a pretensão de emprestar o fascínio da “pequena notável” Carmen Miranda. Se uma biografia é a chance dos grandes personagens da nossa história de renascerem, o escritor prefere o anonimato de um goleiro após um gol, se contenta com o silêncio da saudade.

Autor das biografias de Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda, Ruy Castro, perderia a habilidade com as palavras para escrever sua própria biografia. Também sofreria ao ver sua vida escrita sem ser correspondido à altura do encantamento, que tanto cultivou por personagens nos livros.

“Eu ter a minha própria biografia? Eu não vou escrever nunca. Eu mentiria muito. Se alguém quiser fazer, pode até fazer, mas só por cima do meu cadáver”, confessa Ruy Castro. “De vez em quando acenam com essa possibilidade, mas eu não estímulo”, descarta.

Porém, não conseguiu driblar a esposa Helena Seixas de copiá-lo, assumindo o papel de pesquisador incansável e, principalmente, fazendo descobertas. Pesou o casamento de 20 anos. Mesmo assim não foi fácil.

“Saiu um livro de retratos, é uma espécie de foto biografia feita por minha esposa. Naturalmente não pude impedir, mas não colaborei. Só abri as gavetas, entreguei as fotos, ela perguntou algumas coisas e fez esse livro. Até gostei de ter sido biografado. Mas foi uma exceção”, revela o escritor.

Essa resistência em ter sua vida descrita em linhas é o segredo. Somente após alguns anos da morte dos personagens, um relato minucioso e cristalino dos fatos que envolvem a vida do biografados pode ser dilapidado. É a garantia de não ter interferências.

Uma desilusão amorosa

Se existe algo que não poderia faltar em uma biografia de Ruy Castro é a grande história de uma desilusão amorosa. Poucos sabem. Mas esse craque com as palavras nunca se entendeu com a bola.

A maldição também afetou o mestre Armando Nogueira, que só encontrou forças na sofisticação da escrita para suportar as desavenças com o esporte. “Exatamente. Sofremos do mesmo problema. Jogar futebol é uma das coisas mais deliciosas que uma pessoa pode fazer na vida. Para você ter uma ideia, eu sonho que jogo futebol, e lá jogo muito bem”, pondera.

A alma carioca, apesar da “mineirice” na identidade, fez com que assumisse outro amor, “que maltrata, que arrebata o coração” e, ao mesmo tempo, transforma-o em cúmplice da felicidade.

“Eu sou Flamengo. Quando o Flamengo ganha eu vou dormir e me embalo reproduzindo os gols mentalmente. Mas quando perde isso me atrapalha”, brinca.

Foto: Marcos Labanca

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