No ritmo da Avenida

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O cenário inclui carros, motos e ônibus. Várias pessoas transitam diariamente. Com todo esse movimento é difícil até ouvir outra trilha sonora na Avenida Silvio A. Sasdelli. Mas, entre o barulho de motores e conversas, surge o encantador som do acordeão de Carlos Henrique Rigo, 15 anos.

Ele se diverte com o instrumento. Isso, enquanto não está ajudando o pai no trabalho da loteadora. Ah, as aulas com o professor Guerino Del Vino, o “Gringo” também são levadas a sério.

Essa sintonia entre o adolescente e a música se transformou em paixão, cultivada desde que saiu do berço. “Quando tinha dois anos pedi a minha primeira gaita. Cheguei até ficar doente. Meu pai foi no Paraguai e comprou”, relembra aos risos.

Não demorou muito, e o pai decidiu colocar o filho para aprender os segredos do acordeão no CTG Charrua. O professor foi um dos melhores. Tiago Foester, o “Mão” pentacampeão de gaita, e filho do “Velho” Rui, um ícone da cultura gaúcha. A coincidência é que Foester nunca havia dado aulas antes.

Carlos Henrique aproveitou a sorte e, em pouco tempo começou a se destacar nos campeonatos pelo Paraná. Em 2006 veio o título do Paranaense, na categoria mirim.

A saudade

Por passar a infância se dedicando a gaita-ponto, como também é conhecido o acordeão, embora a técnica seja diferente, o menino sentiu saudade de outra coisa. A saudade de se divertir com os amigos. O empenho no estudo, uma exigência familiar, ocupava o resto do tempo. A música ficou de lado.

Os convites para participar de bandas também foram recusados, em razão dos horários, que podiam prejudicar o estudo e comprometer o futebol com os amigos

São poucos que se interessam por este tipo de música, e um talento a menos pesa muito na luta contra a extinção da gaita-ponto. O futebol vai sobreviver sem Carlos Henrique. Renato Borgheti, o Borghetinho, único a ganhar um disco de ouro com o álbum Gaita-Ponto 1984, com certeza agradece. “Há dois meses retornei às aulas e quero voltar a disputar os campeonatos, mas também vou seguir meus estudos”, disse.

Novamente o menino tem ao seu lado um verdadeiro mestre. Um professor exigente, diga-se de passagem. “Tem que praticar sempre, não só quando o professor está por perto, senão nunca vai chegar onde pode”, lembrou o Gringo, que há 25 anos é músico e por duas décadas trabalhou nos hotéis Cataratas e Cassino na Argentina.

O repertório de 1800 músicas e a variedade de estilos, que presenteou turistas do mundo todo, agora é ensinado para alunos de Foz, seis somente no bairro.

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